“É
chegou a hora de tirar leite de pedra, cansei, achei que ia ser fácil parar com
tudo, eu tinha uma namorada, um trampo, poxa era pra ser fácil, porque as
coisas acabaram assim? Eu tinha mais de vinte mil na minha conta como consegui
perder tudo? Festas com os amigos, uma empresa inteira, esses merdas do passado
acabaram com tudo, trouxeram a P2 aqui e pouco a pouco levaram tudo, até mesmo
o que eu achei que não podia perder. Meu avô de desgosto morreu, minha namorada
me deixou por causa do meu bafo de vodka no enterro do meu velho, que merda que
eu virei, desculpa ai, vou voltar.”
“Cadê
o numero, eu tinha guardado ele em algum lugar?” Reviro a estante de cima
abaixo e não acho a porra do numero, reviro mais a fundo a gaveta e acho o
velho vinte e um, será que ainda funciona, aquele aparelho, ainda bem que não o
achei antes, se tivesse achado com certeza na merda que eu estava eu tinha
vendido ele, o chip ainda funciona nem preciso discar a cobrar ele liga e
escuto aquela velha voz, no mesmo tom de sempre:
-
Por onde você andava, achei que nunca mais ia te ver, o que aconteceu está tudo
bem, a família continua bem sem você.
Penso
um pouco antes, se eu não falar nada e desligar vai ser uma ofensa, e os
italianos não tomam ofensas, eu devia ter ligado pro Hernandez, pedido um
dinheiro emprestado porque liguei logo para o chefe na primeira ligação que
fazia isso significava um caminho sem volta, quando disquei sabia disso, mas
precisava respirar antes de falar palavras que já seriam ditas antes mesmo de
serem pensadas.
-
Eu quero voltar, tem algum trabalho.
A
voz do chefe não escondia a satisfação eu era fiel, e isso para um cara como eu
era raro, apesar do meu linguajar chulo de quem foi criado nas ruas, eu sempre
tinha um assunto não era um tédio como a maioria dos meus, eu era um
meio-sangue, mas ainda sim o chefe sempre me chamava pelo sobrenome, raro, com
um significado único:
-
Para você, sempre tem trabalho Sanglant, você é um dos nossos melhores garotos,
se bem que você não é mais um garoto faz tempo não, vou ligar pro Hernandez,
ele precisa saber que você está de volta, para sua sorte ele está ai por perto,
ele vai te encontrar.
Peguei
meu velho cartão de crédito que estava junto com o celular, ele estava ativo de
novo, completei o tanque da minha CG, uma moto velha só que silenciosa, tive
que esperar duas horas até Hernandez me encontrar, ele me encontrou no seu
carro, uma mercedes, nunca soube diferenciar os modelos de carros, mas aquele
era o mesmo carro que Hernandez tinha na minha época, velho signo, esse
advogado sempre foi meticuloso, era o tipo de cara que nunca iria se desfazer
de um carro desses.
Kit
básico, uma pistola calibre 38, cano raspado, não importava muito o calibre, a
maneira como fazia meu serviço o que importava era que fosse silenciosa, a
foto, dessa vez era um tipo gordo, seria fácil se ele estivesse sozinho, eles
devem ter julgado que eu estava enferrujado só assim para me mandarem atrás de
um zombie, mas bem trabalho é trabalho, e o pagamento estava ali, adiantado
como sempre e tinha triplicado se comparado com o da minha época, ao me ver
contar o dinheiro, Hernandez brinca, fazia tempo que eu não via isso, era raro
ver aquele baixinho brincando:
-
Correção monetária.
Peguei
a pistola, guardei a foto, e entreguei a maleta para ele:
-
Deposita, a conta continua a mesma.
Ele
pega a maleta guarda no banco de trás e volta para o volante, faz o contorno
com o carro, abaixo o seu vidro e ao invés de sair em disparada como o de
costume, vi algo que guardei comigo para o resto da vida, sem o orgulho, não
existente entre os meus, mas com a honra poucas vezes enxergada entre os meus. Ele
antes de sair tirou seus ósculos escuros e disse olhando no fundo de meus olhos
com o olhar que inspirava lealdade em todos os homens da “Famiglia”:
-
Bem vindo de volta francês, senti sua falta.
“Os
homens são fiéis ao seu líder, mas só enquanto os a sua volta poderem garantir
a eles que isto vale a pena.” Velhas palavras do velho padrinho, palavras eternizadas
pelo olhar daquele “Consulente del sangue caldo.”
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