terça-feira, 19 de julho de 2011

E numa nota de samba eu disse adeus.

Enquanto a minha volta tocava uma musica irritante na minha cabeça tudo que tocava era um velho samba desses que a gente só escuta tocando no rádio do avô ou num desses programas de clássicos. Enquanto lá fora tocava um misto de batuques e notas estranhas em guitarras eletricas altamente desafinadas na minha cabeça apenas uma nota ecoava e depois as outras vinham entrando de uma maneira tão agradável que pareciam apenas complementar não alterando exatamente nada da essência inicial.
A razão das notas estava do meu lado, olhos castanhos, olhos de deusa, não uma deusa de brisa suave que passa devagar, mas daquelas deusas que quando passa arrasta consigo tudo que temos e somos e que quando saem da nossa vida nos destroem de maneira incontrolável.
Eu me levantei abri a carteira coloquei uma nota dez, que segundo a minha visão pagava e sobrava o que ela havia tomado ali, peguei o maço de cigarro dela no meu bolso e o seu isqueiro bic pequeno, tirei um cigarro e fiz nascer a chama duas ou três vezes até consegui acender o maldito cigarro, ela sentou do meu lado, cheirou meu pescoço e me pediu um cigarro, entreguei a ela e deixei que ela tentasse acender, ao ver que ela não conseguia ela virou me olhando nos meus olhos com ar possessivo de quem sabe que manda e perguntou:
     - Acende?
Antes que ela terminasse de me pedir eu já estava acendendo o cigarro, entreguei para ela enquanto ela ainda me olhava, e eu pensava no sambinha que tocava em minha cabeça, os sinais da bebida eram claros na face dela, o sorriso espontâneo e o cheiro dela doce e suave me envenenavam a cada momento, veneno esse que surtiria efeito mais tarde, mas que já naquele momento me controlava por inteiro, eu olhei para ela e disse quase num suspiro enquanto deixava que a fumaça se libertasse:
     - Vamos embora?
Ela sem me entender muito bem talvez por causa da bebida me devolveu a pergunta com outra pergunta?
     - Porque?
Eu levado pelo veneno sem pensar muito bem me aproximei do pescoço dela enquanto jogava a bituca para o mais longe possível de mim, enquanto pensava, simplesmente pensava, em como o amor se assemelhava aquele cigarro, é gostoso, vicia, mas quando termina tudo que queremos é ver seus destroços, a bituca, o mais longe possível de nós.
Ela insistiu para ficarmos, sentarmos na mesa mais um pouco, mas eu era relutante, queria ir embora, queria aproveitar ela, ela era o motivo para mim, o motivo para estar ali, e naquele momento o unico motivo relevante para a minha existência, ela decidiu ficar enquanto isso eu decidi ir embora, entreguei o maço de cigarro dela para ela juntamente com o isqueiro, ela disse fica com o isqueiro, eu arranjo outro. Foi neste momento que percebi, eu era substituivel, podia ser trocado qual aquele isqueiro, eu era inutil para ela, levei o isqueiro junto comigo, uma ultima lembrança de uma história que ali acabava.
Passei no posto comprei um maço de cigarro, abri o lacre e fiquei pensando durante um momento sobre ela, como haviamos no conhecido por acaso, como eu havia chegado até aquele ponto, e como eu havia errado, pensei em voltar atrás, pensei em seguir em frente, e foi quando descobri que eu como tinha sido até aquele momento tinha acabado, restava saber quais seriam minhas esperanças, sai do posto coloquei o capacete, com a viseira aberta coloquei um cigarro na boca acendi, e deixei ele acabar, joguei a bituca esperei mais um pouco e acelerei.
Um caminhão passou, eu virei o guidão, foram apenas alguns segundos, onde eu escolhia entre freiar, e me deixar ser levado pelo caminhão, ou acelerar e passar por aquele trevo, decidi manter a velocidade e deixar a roda da fortuna decidir por mim.
Durante estes alguns segundo me perguntei, o que ela faria caso ela soubesse que eu havia me atirado, o que ela faria se sentisse minha falta, se nunca mais me visse, nunca mais me amasse, e percebi que só teria essa resposta caso sobrevivesse, que só veria a dor ou tristeza dela caso continuasse vivo, e ai acelerei, por amor por ela virei no trevo e voltei para a cidade, ela ainda estava no bar, deixei minha moto no meio-fio, acendi o cigarro e olhei para ela, ela estava chorando, chorando de saudade, chorando porque eu a havia deixado por alguns segundo, o que ela faria se eu não tivesse acelerado?
Acendi outro cigarro, ela chegou meio tímida e me abraçou, perguntei se alguém tinha feito algo, ela simplesmente virou para mim e disse:
     - Vamos embora desse lugar, eu não quero mais ficar aqui, eu só quero você.
E foi neste ponto que eu entendi, por mais que ela jogasse o isqueiro dela, ela ainda iria continuar querendo fumar...

2 comentários:

  1. Divertidíssimo, uma digna narrativa de um personagem fictício em uma situação mais fictícia ainda. A graça da vida é poder realizar todos os seus sonhos escrevendo eles e torcendo para que eles um dia saiam do papel, porém a grande maioria deles geralmente permanece escrita e transformam o narrador em um mero sonhador contador de histórias.

    ResponderExcluir