segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sucata.

- Eu gostei de ficar com você! - Ela disse, com uma lágrima solitária brotando nos olhos. Ela se encarregou rapidamente de impedir que a gota seguisse seu caminho.
- Então porque vai escolher ele? - Ele estava aflito. Não chorava porque não sabia como o fazer, mas se soubesse o faria. Ele não suportava aquela idéia, pura e simples, de ser trocado por um pedaço bonito e congelado de passado.
- Você não entende. Ele... Ele significa muito pra mim! - As lágrimas já vinham em quantidade maior do que o afogável, e por isso a sufocavam. Ela soluçava, mas tão baixo e tão devagar que não parecia um desespero, e sim um sangramento.
- Não! - Ela não podia, ele não permitiria. Era tudo culpa dele, daquele maldito, daquele imundo. - Ele vai fazer tudo de novo. Vai te trocar por uma qualquer.
Ela soluçou mais forte. O silêncio do apartamento dele era profundo. Ela não podia deixar de sentir uma vertigem pelo silêncio que cortava os seus soluçõs. Ela só queria desengasgar o que tinha a dizer, mas era muito, muito melhor enterrado nela do que ela imaginou inicialmente. Então, com a força das raras vezes em que nos desenganamos e sabemos prever nosso próprio caminho, ela falou.
- Eu sei.
E parou de soluçar. Ele se tornou inquieto. Como podia, como poderia ser, ela saber o fim da tragédia anunciada e seguir para ele com aquela vontade, quando ele estava ali, pronto a se matar, se necessário, para fazê-la feliz. Não era o caso, ele sabia, e só isso o impedia de saltar com um só esforço a cerca da sacada. Ele não se incomodava com o silêncio. Ele preferia que ela não falasse mais nada, para que nunca terminasse de dizer o que ele sabia que ela diria.
- Você não pode. - Ela fez menção de responder, mas ele a calou com um beijo, desses de cinema, da cena final, que muda tudo e coloca as coisa nos devidos eixos. Mas aquele não era um filme.
Ao fim do beijo, ela ainda chorava, mas agora no peito dele. Se recolheram ao quarto, numa cerimônia solene, uma despedida de tudo que poderia ser. Não foi breve, nem foi eterno. Ao fim de tudo, ela se arrumou, ele se deitou mais uma vez.
- Por que?
Ela o olhou, sem surpresa. Era a pergunta que ela esperava. Ele estava pronto para aceitar.
- Por que eu preciso tentar. - Ela disse, se aproximando e tocando o rosto dele.
Ele se remexeu, apertando entre o rosto e o ombro a mão macia dela. Ela começou a se afastar, mas ele segurou a mão dela. Ainda haviam dúvidas.
- Você vai voltar? Um dia? - Ele parecia um menino, desses perguntando à mãe se a injeção doeria. Ela sorriu.
- É melhor você não me esperar. - Ela disse, e lhe deu um beijo. - Eu não faço bem à você.
Ela fez menção de partir, ele a segurou novamente.
- Eu não quero ficar bem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário