- Seu voo sai às quatro? - Ela disse, observando, enquanto ele colocava as últimas peças de roupa que ela dobrara para ele na mala preta, ainda com aparência de nova.
- Isso. - Ele disse, verificando o peso da mala. Ia fica pesada, mas era melhor levar tudo. Não queria esquecer nada ali.
- E chega às oito não? - Ele não respondeu, sabendo onde ela queria chegar. - E ela vai estar lá te esperando pra te levar embora...
- Não começa, Paula. - Ele disse, tirando os olhos da mala, irritado. - Você sabe que a gente já falou disso. Ela é minha esposa. A não sei quantos anos. Oito. - Ele disse, parando pra pensar. - Oito anos de casamento. Eu não posso chutar ela assim, como se nunca tivesse amado ela!
- Mas você ainda ama! - Ela gritou. Se exaltou. Sabia que ele não gostava quando ela gritava, ele iria se chatear com aquilo.
Mas ao contrário do que ela esperava, ele ficou calmo. Se sentou na cama e deu uma palmada nas próprias pernas, a convidando para se sentar. E ela o fez. Caminhou de vagar até ele e se sentou no colo dele, o abraçando forte. Ele retribui na mesma intensidade, mas soltou ela primeiro.
- Eu casei com a Marília com só 22 anos, Paula. Eu não sabia onde tava me metendo! - Ele colocou o cabelo dela atrás da orelha, como nos filmes. - Só depois, bem depois, eu fui te conhecer. - Ele parou, respirou, e seguiu. - Só depois eu soube o que tinha perdido nesse tempo de casado.
Uma lágrima caiu do olho esquerdo dela, do lado virado para ele, e ele a enxugou como só ele sabia fazer. Ela o beijou forte, muito forte, querendo que ele ficasse, querendo absorvê-lo para tê-lo sempre por perto. Ele a afastou. Ela se levantou e foi até a cozinha, enquanto ele terminava de arrumar a mala.
Quando o taxi chegou, ela percebeu da janela da cozinha, e foi até o quarto novamente. Ele notou a aproximação dela, e questionou.
- O taxi chegou? - Ela confirmou com um aceno de cabeça. Ele fechou a mala, deu um selinho nela e se direcionou para a porta. - Boa semana pra você. Se divirta na faculdade e me espera que eu volto final de semana que vem. - Dito isso, fechou a porta.
Mas não esperava que ela abrisse a porta também. Estava frio, e ela ainda de pijama, mas ela tinha algo a lhe falar.
- Não. - Ela disse, alto, e ele ouviu, do outro lado do corredor.
- O que? - Ele não compreendera direito o que ela queria dizer com aquilo.
- Não. Não volta. - Ele franziu as sobrancelhas, mas ela se manteve firme. - Só volta quando tiver falado tudo pra ela. Por favor. - E dito isso, trancou a porta.
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