quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Uma ou duas poesias novas

Compreensão

Às vezes fico pensando
nos conselhos que me dão.
Não beba do copo dos outros,
não ande com loucos, tenha os pés no chão.
Talvez eles estejam certos,
mas você tem que acreditar:
Às vezes perder o juízo
é fazer o paraíso em qualquer lugar.

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Síntese

Quer que explodam tudo
que revirem o mundo
e não achem nada.
Quero o calor do fogo
na fogueira da praia
com os pés na água.
Quero sal, pimenta e azeite,
e que sem enfeite
seja tudo veneno.
Quero começar pequeno
mas que venha o tempo
e me faça grande.
Quero o andar do bêbado
para que minha visão
seja eternamente sóbria.
Quero conviver com o medo
e que o meu segredo
seja pura coragem.
Quero aprender com o velho
para que o meu saber
tenha sabor de jovem.
Quero o ócio e o tédio
que me são remédio
pro cansaço do trabalho.
Quero muita razão
para que não sejam vãos
meus momentos de loucura.
Quero que o meu poema,
com todo o seu problema
seja um pouco prosa.

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Fez-se a luz

Argila para dar a liga,
no barro que moldo com esmero,
em que soprar vida espero,
para que o meu plano siga.

A ele darei companheira
em troca do seu melhor.
E deles será a tarefa maior
de encher de vida a criação inteira.

Sei que eles pecarão
Ao ouvir o Inimigo, cederão.
E os expulsarei sem prazer.

Juntos sempre estarão.
E um poeta verá, no amor de Adão,
A comparação com o próprio sofrer.

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Todo Setembro é a mesma história.
Me apaixono e perco o mês.
Quando noto é dia 25.
Mas esse Setembro chegou mais cedo pra mim.
Chegou no domingo, fim de semana.
Numa só noite fui fisgado, dominado.
Da noite pro dia me perdi em delírios.
E agora que Setembro chegou,
essa loucura vai de vento em popa,
e eu já não quero o marasmo.
Algo me diz que esse Setembro
vai pelo menos até o fim do ano.

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Sentimentos

É tudo um deus nos acuda,
um socorro, um trupé.
Me perco nessa baderna,
nada encontro nessa zueira,
não entendo direito essa zorra,
mal consigo organizar essa zona,
perco o tempo com essa bagunça
Seja o que deus quiser.

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Cegueira

Facada, segredo, medo.
Corrida, pavor, grito.
Choro, desespero.
Vizinho, socorro, telefone.
Espera, torpor, dúvida.
Sirenes, polícia, alívio.
Prisão, ambulância, esperança.
Recuperação, saúde, alegria.
Julgamento, condenação, justiça.
Sonho?

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Moral

A gente. Nós dois somos dois,
somos um, somos mais.
Somos tudo que ninguém quer ser,
não somos nada nesse universo.
Somamos, multiplicamos, potencializamos.
E esperamos sermos mais
que o sermão da semana.

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