Caminhei
tranquilamente após deixar a moto um tanto para trás, acendi um
cigarro, se ele pudesse me ver provavelmente iria dizer que estava
profanando o nosso lugar sagrado, mas aquilo era uma mata velha, que
continuava velha, cheirava a cigarra e a besouros e naquela hora logo
após o inicio da manhã era possível sentir forte o cheiro dos
eucaliptos que só me aumentava a saudade dos tempos, dos velhos tempos. Cheguei até o
córrego, lembranças me vinham, eu sempre gordo enquanto ele ia na
frente, sempre altivo e disposto eu vinha atrás reclamando da
coceira do capim e dos galhos de arvores que me atrasavam o passo,
mas ele sabia da verdade eu nunca fui um corredor, nem nunca iria
ser, mas ele respeitava.
“Ah!
Se ele pudesse me ver agora”, como eu mudei nesses anos que estive
longe, continuava não sendo muito alto, mas agora estava magro, um
capelo bem aparado, sobrancelhas tiradas, unhas feitas, quem
imaginaria que o remelento suado como era chamado, iria se tornar o
galante Sr. Fernan, era mais do que eu podia imaginar mas do que ele
podia imaginar.
Terminava
o cigarro, olhava o relógio, os outros já deveriam ter chego ali
faziam quase quarenta minutos, afinal eu e ele não éramos os únicos
donos daquele lugar, mais tarde ao nosso grupo se juntaram a
Gabriela, que nas mãos do Diogo e na minha boca logo se tornou Gata,
eu era o Suado, ele o Marra. Foram bons tempos só nos três, que se
tornaram melhores no dia em que resolvemos ir roubar laranjas na
chácara do seu Irineu e conhecemos a Brava, o nome da Brava era
Luana, eu me apaixonei perdidamente por ela, e ela se apaixonou
perdidamente pela Polaca, a cachorra da minha chácara o que garantia
para mim bons momentos com ela.
O
primeiro deles chegara, não era nem a Brava e nem a Gata para a
minha tristeza, era o Tripa, que também mudara muito, o irmão mais
velho de outra integrante a Jóia, entrou no grupo porque tinha o
mesmo sentimento que eu tinha pela Brava só que pela Gata, o Marra
nunca se importou muito com os olhares dele para Gata, o que não
deixou ela muito feliz.
Por fim
chegaram a Gata e a Brava, juntas sorridentes, e logo depois chegou a
Jóia, não trocamos uma única palavra, mas deu para perceber a
tristeza nos olhos da Gata, eles cresceram e o Marra aprendeu por fim
a amar ela, o Marra virou Marcelo, e a Gata por fim foi chamada de
Gabi como sempre preferiu, iam se casar, mas o Marcelo estava sempre
doente, até que um dia a Gata me ligou. E foi ela mesmo que quebrou
o gelo:
- Diogo, digo, Suado, pode começar.
Eu
respirei fundo nunca pensei que nesse momento eu teria que segurar o
choro, mas segurei bem, respirei fundo e tentei lembrar das palavras
da promessa, das coisas que o marra fizera eu dizer quando eu estava
para me mudar segurei firme, parei no tempo por um momento tossi um pouco e continuei:
- Me desculpe se eu errar as palavras, mas eu vou dizer mais ou menos como eu me lembro, estamos aqui eu Diogo, também conhecido como Suado.
- Eu Gabriela ou Gata.
- Eu Joana ou Jóia.
- Eu Thiago, o Tripa.
- Eu Luana, a Brava.
Pensei e
tentei lembrar, no dia em que fui embora, ele me chamou, e chamou a
todos era um garoto forte, e para ele não foi difícil arrastar a
Brava para o meio do mato, mesmo aos gritos de desespero dela e ele
fez todos nós falarmos nossos nomes, e o que nos tornamos naquele
verão, eu ia embora era o traidor, mas ele achava que até um
traidor deveria merecer uma morte digna, aquela foi a minha vez de
morrer, mas pouco a pouco pelos e-mails e mesmo crescendo aprendemos
que aquele verão nunca terminara, o verão nunca termina, o Marra
sempre dizia isso, e nos juntamos um, dois verões, crescemos mais um
pouco e ele foi me visitar na capital, eu estava distante e estava
começando a fumar, mostrei para ele minhas musicas, mas ele me disse
que tinha mais jeito para desenhos e foi assim que me tornei a pedido
dele arquiteto, foi ai que perdemos o contato. Tinha que ser forte e
continuar terminar logo com aquilo, antes que eu chorasse ali na
frente de todos, eu que era o brutamontes do Marra, eu nunca podia
chorar, por isso continuei:
- Em lembrança de um grande amigo, Marcelo, o Marra.
- Para lembrar – continuou a Brava – que nunca estaremos sós.
- E que sempre teremos a cada verão.
- Uma nova chance.
Conclui,
com aquelas palavras mas nada, me fazia sentir mais falta de Marra do
que estar ali, sai o mais rápido que pude para pegar minha moto e
dirigir, para longe dali, foi quando fui alcançado por todos eles,
estavam rindo e logo Brava me chamou:
- Ei Diogo, suas costas estão suadas.
E eu ri,
me lembrando como era de novo ser criança.
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