segunda-feira, 16 de abril de 2012

Simplicidade

Ela desceu pelo Uruguai, atravessou o rio da Prata pra Argentina, segui pelo Paraguai, Chile, e subiu. Não sei bem onde ela queria chegar, mas ele ficou aqui. No interior paulista, perdido numa cidade minúsculo, tão longe dela.
E foi mais ou menos com isso na cabeça que eu resolvi fazer uma visita pra ele. Sabia que ele deveria estar mal. Não sabia se eles tinham terminado ou algo assim, mas inseparáveis como eram, algo deveria ter acontecido.
Fui encontrá-lo na varanda, uma guampa na mão esquerda, cheia de erva, e um cigarro na mão esquerda. Ao lado, um violão.
- E aí, Hugo? Tudo bem? - Eu disse, abrindo o portão.
- Tudo cara. Tá sumido! O que te traz de volta a essa cidade?
- Vim visitar os velhos amigos - E fechei o portão atrás de mim, e ele fez um rangido triste, desolador.
Eu me sentei em uma outra cadeira de vime. Fora a falta dos outros quatro amigos da turma, me sentia de volta à faculdade.
- E aí, quando você forma? - Eu perguntei, tentando manter a conversa viva.
- Fim do semestre, mas não é disso que você quer falar, não?
O Hugo sempre era direto. Ele sabia que eu tinha ido por preocupação com ele, e não ia querer ficar aos rodeios.
- Fiquei sabendo que ela foi viajar sem você. Vocês brigaram?
- Claro. Mas tá tudo bem. - Ele disse, abrindo um sorriso.
Naquilo eu não acreditava. Mas ele estava lá, com os dentes à mostra, um baita de um sorriso, mesmo com ela distante. Eu não lembrava deles separados, e a única vez em que isso quase acontecera, o Hugo quase tinha feito uma besteira sem tamanho.
- Cara. Pode se abrir comigo. Eu sei como você é com ela. Eu sei que você pensava que não podia viver sem ela. - Eu disse. Queria que ele se abrisse comigo, por que trancar aqueles sentimentos só ia fazer mal.
- Disse bem cara. - Ele me interrompeu. - Eu pensava assim. Não penso mais.
Ele fez uma pausa pra encher a guampa de tereré com mais água.
- A gente brigou por que ela ia desistir da viagem. Eu fiz ela ir.
Aquilo sim era novo. Ele, sempre ciumento, sempre com medo dela "conhecer alguém melhor", tinha feito ela, sempre com ânsia de algo novo, ir na viagem? Eu não entendia mais nada.
- Como assim? O que aconteceu?
- A gente não estava namorando, cara.
Outro baque, mas ele continuou.
- Ela estava com outro cara, mas largou dele, veio atrás de mim, falou que ia cancelar a viagem. Eu fiz ela ir, aproveitar o tempo pra ver se era isso mesmo que ela queria. E depois a gente conversa.
Ele definitivamente tinha mudado. Ainda era o Hugo, meu melhor amigo, mas ele finalmente tinha amadurecido, estava pronto pra viver a vida. Mas eu tinha que questionar, fazer a pergunta final.
- E se ela não voltar pra você?
Ele sorriu, soltando a fumaça do cigarro.
- As coisas são simples, cara. Se ela não voltar, eu vou ter que procurar onde é meu lugar.

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