Ela
dançava lindamente , era o que melhor ele podia ver a distância que
se encontrava dela, trocava passos entrando com seus pés dentro do
limite de seu par e fazendo com que ele tivesse extrema dificuldade
de conduzi-la era mais que uma simples dançarina, era uma
combatente, fazia com que qualquer um que com ela dividisse a valsa
passasse diante dos ali presentes se sentisse acuado, ela não se
entregava, e tornava cada valsa um duelo, tentando talvez descobrir
alguém que a vencesse, mas os pares não duravam muito, poucos
aguentavam uma ou duas danças.
Eu de
longe sorria, parecia o tipo de coisa que só eu notava, ela dançava
bem, todos os pares admiravam isso, mas não sabiam porque, eles não
conseguiam com ela dançar nem metade do que com os outros pares,
fitei-a e ela finalmente percebeu que eu estava ali, sorriu enquanto
parava de dançar, pude ver em sua testa uma tímida gota de suor, a
quanto tempo ela estava dançando meia-hora, uma hora?
- Ei,
porque você está com essa cara? Tá com ciume é?
Dizendo
isso ela me abraçou, e a sua pergunta não me surpreendeu, era
comum que sempre que nos encontrássemos ela a fizesse, puxei-a pelo
braço, eu precisava fumar um cigarro, mas também precisava
conversar com ela, não gostava que ela me visse fumando, mas de
todas as pessoas ali era com ela que gostaria de discutir esse
assunto que nos últimos tempos tinham me atormentado, afinal o
assunto era mais dela do que meu não?
Ela com ela, acendi a luz, e olhei no fundo de seus
olhos negros, e me perdi, mesmo sem querer simplesmente me perdi, ela
me olhou e tocou com sua mão minha barba mal feita, eu acendi o
cigarro, e permiti que sua mão pequena afagasse meu cabelo. As
coisas haviam começado já fazia algum tempo, ela era minha amiga,
mas eu nunca escondi que ela era também minha paixão, eu a vi
chorando escondida em um canto, no banheiro da minha casa, era um
churrasco de uns amigos, e após eu dizer para ela que iria embora
percebi que ela saíra, não tinha mais tempo para pensar precisamos
conversar:
- Raquel,
o que aconteceu naquele dia?
- Nada,
ué – disse ela parando de me afagar e já saindo – já foi, eu
tava passando mal, sabe como é cólica é foda Yago.
- Tá
bom agora vai mentir pra mim, em um momento eu digo que vou me
mudar e no outro momento te encontro chorando.
- Tá,
eu confesso, vou sentir saudade de você, o que você esperava quem
mais ia me fazer sorri.
A
silenciei, toquei seu cabelo, joguei fora a bituca para fora do
quarto, repeti meu olhar, e pensei quantas coisas poderiam fazê-la
chorar, a conhecia durante anos, e nunca a vira daquele jeito,
durante uma semana inteira tentara falar com ela, MSN, Celular,
Twitter, ela respondia a todos menos a mim o que era aquilo, eu não
entendia, era simples que ela fizesse isso, se estivesse brava
comigo, mas não estava, ela estava falando comigo ali naquela hora.
- Yago
se nunca vai entender mesmo né – disse ela sorrindo – você é
lerdo.
- Como
assim - perguntei – o que eu preciso entender?
- Você
vai embora mesmo?
- Eu
vou, pense em mim, estive aqui durante anos, trabalhei consegui
comprar uma casa, consegui construir uma carreira, mas em
compensação nunca consegui me estabilizar quanto aos meus
sentimentos, eu nunca encontrei alguém para mim daqui, tenho
grandes amigos, mas a pessoa que eu amo, nunca vai me enxergar, ela
ainda tem medo sabe.
- Então
você nunca vai saber!
- Como
assim?
- Que
meu medo acabou.
Demorei
alguns minutos ainda tentando entender aquilo, fiquei pasmo e sem
perceber deixei que ela saísse do quarto, acendi outro cigarro
deixando que os pensamentos fluíssem na minha cabeça, e fiquei
durante muito tempo tentando entender o que aquelas palavras todas
significavam, e então como num passe de mágica eu entendi um pouco
daquilo que ela me falava, o que eu não podia entender era o porque
ela sorria, desci de volta ao salão.
A festa
era em uma casa de alguns amigos dela, e nesse momento ela dançava
exatamente com o dono da festa, um grande amigo de nós dois, no
momento em que me viu a deixou, por dois motivos, o primeiro era
porque havia perdido o embate com ela, o segundo ela havia lhe
segredado algo aos ouvidos. Pedro o nome dele, veio até mim e me
disse sem pensar muito:
- Se
não tiver coragem de ficar, pelo menos tenha coragem de dar uma
ultima chance, Yago não deixe que tudo passe pelo medo de não
acreditar.
Pensei
um pouco, mas fui até ela, e ainda tentando digerir aquilo tudo
decidi dançar com ela, e percebi algo estranho, nós nos conhecíamos
há muito tempo, mas nunca havíamos dançado, esperava profundamente
que ela me forçasse, que ela me exigisse, mas ao invés disso senti
algo leve, algo simples, eu que nunca havia sido um exímio dançarino
e tinha essa fama entre os amigos, agora dançava em um ritmo
completamente dela, mas sem em momento algum deixar-me levar ao erro
ou ao cansaço.
- Está
pegando leve comigo?
Ela riu,
olhou para os meus pés e eu olhei para os dela, os movimentos,
continuavam os mesmos, agressivos, mas era exatamente minha resposta,
que tornava os seus passos leves, continuamos era estranho porque as
músicas que tocavam não refletiam de forma alguma aquele momento
até que de repente a playslit tocou um Rock, era o momento de parar
de dançar, mas continuamos abraçados sem falar nada apenas
escutando a balada que tocava com sua letra:
“When everything
is wrong I'll come talk to you
You make things
alright when I'm feeling blue
You are such a
blessing and I won't be messing
With the one thing
that brings light to all of my darkness
You are my best
friend
And I love you, and
I love you
Yes I do”
Eu
ri, e ela disse:
-Francamente,
esse Pedro me surpreendeu, – olhou no fundo dos meus olhos e
continuou - sabe eu quero que você fique.
Eu
ri, era profundo e franco o que ela me dizia, mas não sabia se seria
capaz de realmente ficar por conta dela, não sabia o quanto a amava,
mas eu queria ficar, mas não podia ficar, então decidi.
-Sabe
eu quero que você venha comigo.
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