quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Sozinho?

                “Ser ou não ser” dizia um cartas velho na parede de um velho teatro, e desde que eu havia visto aquilo, mesmo que no fundo eu odiasse Shakespeare e todo o burburinho envolvendo o nome dele fiquei a pensar sobre o que aquela frase refletia em mim, no que eu era naquele momento, ser ou não ser eu, afinal para começar algumas questões ainda mais básicas devem ser levantadas, coisas como, quem sou eu, ou quem devo tentar parecer, em quem eles querem que eu me transforme, quem afinal são eles, quem eles pensam que são?
            Tudo isso permeava minha cabeça, mas no fundo nem eram todas essas duvidas a razão do meu incomodo, no fundo elas sempre estavam presentes em minha vida, mas eu estive por muito tempo acostumado que a presença de outras pessoas na minha vida as respondesse, mas agora eu estava um tanto quando sozinho.
            Em meio aos meus pensamentos sempre tolos fui pego por ela vindo em minha direção, parecia diferente, parecia mais bonita, mas seu sorriso não era para mim, não podia ser para mim, afinal eu estava sozinho.
            Ela parou e me olhou esperando ainda por alguns momentos, e eu sozinho não entendia, foi então que dei um sorriso, e ela partindo me disse:
            - Oi, tudo bem contigo? – em uma pausa olhou para mim com uma cara que indicava sátira e disse – Parece estar “meio” morto.
            Eu sorri de volta ao perceber que era comigo, e segui naquele mesmo tom dela:
            - Falta de café, você já me conhece há certo tempo deveria conhecer meus vícios.
            - Verdade não é – respondeu ela – mas porque mesmo assim você continua me parecendo triste?
            - Triste não carente – corrigi eu automaticamente sem perceber que eu tinha deixado escapar aquilo, mas após o deslize completei – me sinto ultimamente sozinho.
            Ela me olhando de atravessado, quase numa bronca me perguntou:
            - Por quê?
            Neste momento eu entendi que eu não sabia nada sobre sentimento, que me sentia sozinho mesmo não sabendo exatamente com quem eu queria estar, que gostava de diversas pessoas a minha volta e não sentia em nenhuma delas a confiança necessária para começar um amor, e se achava alguém que me levasse a ter essa confiança, parecia que essa pessoa nunca estava a minha volta, sempre longe distante, meu mundo parecia não ter sabor, minha vida estava vazia.
            - Não consigo amar ninguém.
            - Como assim não consegue amar ninguém – perguntou ela meio revoltada – você é uma das pessoas mais românticas que eu conheço talvez o mais.
            - O amor parece ter brigado comigo, começou com uma decepção confiei demais, me entreguei demais a alguém que não me merecia, eu fui muito rápido, amei demais e deixei estrangular uma chance boa de amar e ser amado, desde então acho que ele não me ama mais.
            - Será que foi o amor que te deixou, ou você que deixou o amor?
Disse ela enquanto me olhava, no que respondi quase de imediato:
- E se fossem os dois?
            - Seria um grande desperdício da parte do amor.
            Não entendi no começo sua ultima frase, nem eu mesmo entendia toda aquela conversa, mas eu agora entendia algumas coisas dos últimos meses, por causa de uma decepção eu deixei de me empenhar nas batalhas relacionadas ao amor, deixei de acreditar, fui usando como desculpa uma única decepção para nem mais tentar, fui deixando meu destino morrer, me tornei voyeur de mim mesmo.
            Olhei para ela disse:
            - Mas quem me amaria?
Dei uma pausa e continuei:
 - Por isso que me pergunto, porque um cara tão nobre como o amor, amaria uma pessoa como eu, afinal que me amaria?
            - Talvez eu – ela disse – eu te amaria!
            Meio ofegante e assustado perguntei:
            - Como assim?
            Ela me respondeu também ofegante:
            - Eu te amaria, pois vejo em você algo que não vejo em mim.
            Pensei bastante em poucos instantes, e depois de pensar por um curto período fiz minha ultima pergunta:
- E o que é isso?
Ela sorrindo, com ar de quem entende disse:
- Vejo em você, o carinho que preciso agora.
E foi assim que por carinho e carência nós nos entendemos, nos beijamos, do beijo saímos dali fomos para a casa dela, eu dormi lá, e no outro dia, eu fui embora, não liguei, não me arrependi, pois amei.

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