sábado, 13 de agosto de 2011

Um soneto, dois poemas.

Soneto do Amor Ignorado.

Você, que é toda cheia de perfeição,
Carrega no peito a face oculta,
Se pinta, como fantasia de adulta
Quando me fala no sim o teu não.

Me faz flamejar e nem me consulta,
Como se o nosso amor fosse em vão.
Quando o fogo é frio, é quente a razão
Que tenho para crer que me insulta.

Mas se me procura no dia seguinte,
Largo o trabalho e viro outro ouvinte,
Ouço teu choro tua lamentação.

Você me ignora com certo requinte,
Quando noto sou de novo pedinte,
E quero viver só da tua atenção.


-------

O palhaço era eu.

Eu me lembro muito bem do gran finale,
O povo gritava "Que o sino não badale".
E o palhaço canastrão, no meio do povo,
Pedia que a mágica se fizesse de novo.
Mas ninguém escutou o pobre lamento.
O mágico se foi, quebrando o momento.
E num som límpido, o sino badalou,
Limpando do ar o que o palhaço falou.
Enfim, vivo assim, de cena e de sina.
O poeta-palhaço, com a língua ferina.


--------

Rotina seca.

Você se derrete, mais uma, mais quente.
Você me pediu que não fizesse isso de novo.
E, claro, eu fingi não escutar.
Eu não resisto, eu não sinto medo de te perder,
mas te quero, te quero, te quero.

Você se levanta, faz cena, faz pose.
Você acredita que eu vou ceder pra você.
E, óbvio, você estava errada.
Eu estou sempre tonto, nunca pronto pra você,
mas te quero, te queto, te quero.

Você se lamenta, chora, me implora.
Você sabe bem que eu te amo mais que tudo.
E, percebo, você se esqueceu.
Eu não vivo por ti, não posso esperar,
mas te quero, te quero, te quero.

Você se despede, levanta, se apronta.
Você sabe bem que eu não vou te impedir.
E, lamento, você se vai.
Eu não quero gritar, te fazer ficar,
mas te quero, te quero, te quero.

Mas...
Você volta, como sempre, como nunca.
Você nunca precisou pedir meu perdão.
E, sim, ele é seu.
Eu te quero aqui, com as brigas e tudo,
Mas e agora? E agora? E agora?

Nenhum comentário:

Postar um comentário