quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Meros


            O que fazer, quando não se sente o ar, quando se perde o chão e toda a confiança que se tinha em certas verdades, vira um triste enredo de um filme chato e tedioso? O que fazer quando todas suas dúvidas só são respondidas com exatidão por aqueles que seguiram o caminho do sorriso falso para tentar esconder uma dor profunda? Sabe o que é mais engraçado, você também não sabe a resposta, busca o ar triste e doloroso fingindo a felicidade, ou finge a tristeza profunda para chamar uma atenção que não é sua, não deve ser sua, você demora, e nunca aprende que o motivo das pessoas te olharem deve ser você, e procura outros motivos, abandonando um eu que poderia ser tão maravilhoso, se intimida perante as aberrações que são os julgamentos da maioria dos seus amigos. Você costuma dizer que escolhi o caminho da dor, mas não foi bem assim, no caminho que eu escolhi existem basicamente duas coisas, um eu não vou morrer sem ser amado, e dois eu não vou fazer com elas, o que fizeram com algumas pessoas que já amei, sei a dor é ponto crucial na minha vida, e eu sou grande admirador da dor que constrói, da que nos ensina, neste momento, escolhi o sarcasmo, ao sorriso falso, você vai demorar a me entender, mas talvez esta noite seja o meu primeiro passo a uma bela carreira.
Sentei no carro, o som estrondou uma musica diferente do comum, diferente daquelas a muito conhecida por todos nós, nossas fiéis companheiras da rotina da fuga, não eram musicas que não se repetiam no aparelho do carro, mas estrondava, deixamos a coisa rolar o som rolar e fomos com tanta duvida e vontade de errar, que sabíamos nosso destino.
Chegamos à festa, muitos vieram nos cumprimentar o sorriso na nossa cara era claro, mas sei lá as garotas, tudo naquele lugar respondiam cada pergunta, que meu amigo tinha me feito anteriormente, e que no final não significava nada além de que uma era de “verdade” tinha começado para nós, ou pelo menos para mim, eles pelo contrário já estavam acostumados a ir e vir, a transitar de um mundo para outro, do meu mundo para o da farra, e que agora era meu mundo também.
Peguei a primeira lata, e sorri, uma velha conhecida olhava para mim, esqueci tudo que eu queria e parti conversar com ela, conversa vai conversa vem, ela começa a sorrir, e a dar muita risada das minhas piadas ruins, e jeito ainda pior de imitar as cenas de minhas piadas, não tive duvidas a abracei, fomos para um quarto, o resto deixo que a imaginação de você complete estas lacunas.
Meu amigo perguntou do velho jeito dele:
- Botou?
- Tem que botar não é – respondi rindo – tem que botar.
Outra cerveja, agora eu dançava, agora eu curtia, agora eu duvidava, pois pela porta entrava ela, um metro e cinquenta e seis, eu sempre havia dito mulher bonita tem que ser baixa, morena, olhos claros, um cheiro que inundou aquele ambiente tomado pela fumaça do narguilé e o som extremamente alto de um sertanejo desses que tocam em todo lugar, sabe?
Parei de dançar, não sei não havia perdido a linha não ainda, mas duvidava das coisas que eu havia feito, foi quando meu amigo apareceu, outra cerveja, tomamos mais um gole e eu acendi um cigarro, fazia um tempo que eu não fumava, mas naquele ambiente eu precisava me impregnar do máximo de calma que eu podia ter, eu precisava ter a noção de que meu mundo havia mudado, de que não valia mais a pena me entristecer por ela.
Voltei a dançar, havia esquecido, havia largado aquele velho eu que havia se importado com ela, que havia feito por ela, o que ela jamais faria comigo, mas pude talvez perceber em seu rosto, uma lágrima, falsa talvez? Ilusão do algo, quem sabe? Não sei, mas acredito que ela também estava magoada, nossas mascaras tinham caído, e éramos mais uma vez meros humanos.

Um comentário:

  1. Uau! Texto super envolvente.... cheio de ritmo!
    Parece que pude sentir o acontecimento.

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