quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Contatos

Quando abri a porta e liguei a luz, percebi imediatamente que estava sozinho. Gritei por alguém mas a casa estava abandonada, assim como eu sabia que estaria. Sexta feira a noite sozinho, sem companhia. Um sopro de melancolia soprou sobre mim, assim como um tênue vento frio, me gelando a espinha.
Me sentei em frente à TV com uma garrafa de vodka. Coloquei num canal de musica para deixar aquele ambiente silencioso um pouco mais vivo. Depois de meio copo, resolvi que não passaria sozinho aquela noite.
Puxei meu celular do bolso e abri a lista de contatos, sem decidir exatamente pra quem ligar. Acabei decidindo ligar pra todo mundo, por ordem alfabética.
Muitas pessoas viajando, muitas pessoas ocupadas, muitas pessoas não atendendo. Já me encontrava na letra J quando me deparei com o numero dela.
Eu obviamente ia pular. Eu não ia ligar pra ela. Fazia muito tempo. Mas por algum motivo meu dedos se moveram de outra maneira. Talvez fosse a musica estranhamente incentivadora.
Ela atendeu depois o terceiro toque.
- Alo.
- Oi Julia.
- Felipe?
Nós dois ficamos em silêncio por um breve momento.
- Nossa, que surpresa Felipe! A gente não se fala desde...
- É, faz tempo. Como vão as coisas?
- Bem, bem. Consegui um emprego bacana, bem na área que eu queria. E você, como vão as coisas?
- Bem também. Mas eu me mudei de casa. To morando com uns amigos agora.
- Que legal, deve ser super divertido.
Eu olhei em volta, pra minha solidão, por mais temporária que fosse.
- É, super. Sempre uma loucura. Escuta, você tá fazendo alguma coisa agora?
- Não exatamente, por que?
- Tá a fim de sair? Sei lá, pelos velhos tempos, sabe? Talvez comer um yakissoba no Chino, que tal?
Ela deu uma engasgada quando foi falar.
- Hum, desculpa Fe, mas eu não posso. Eu tenho um compromisso.
- Nah, tudo bem, eu entendo. Fica tranquila. Como vai a sua prima, ainda namorando aquele idiota?
Ela silenciou.
- Tá tudo bem, Julia?
- Minha prima e o Gustavo terminaram... Agora ele...
- Que que tem?
- Agora eu que namoro ele.
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto sem que eu percebesse da onde vinha. Eu sabia, eu sabia, eu sabia. Filho da puta. O tempo todo ele fora a fim dela. Mas não deixei a emoção passar pra minha voz.
- Então tá certo, Julia. A gente se fala, combinamos qualquer dia o Yakissoba, certo?
- Certo.
- Um beijo então.
E desliquei. O celular, a televisão. E, com a vodka, os meus sentimentos.

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