sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A pedra


            Existem coisas que eu queria ter dito, ou será que existem coisas que eu queria ter feito antes de partir, não sei qual seria a melhor maneira de expressar, só sei que hoje não entendo nem mesmo a ordem como poderia ser exposto de forma mais clara meu caso.
            Abandonei o mundo como vocês conhecem num dia de chuva, e como eu adoro chuva, ela também adora chuva, desde então meu coração é um motor, o meu sangue é mero óleo, quase um fluido de bateria, e meus olhos piscam por puro hábito, e também para lubrificar a lente, abandonei tudo, deixei tudo para trás pelo sonho puro e simples de atingir limites nunca antes alçados pelo homem, meio maquina meio mito, vai ser difícil explicar o que sou mais tentarei.
            Foi um convite simples, um homem de boa aparência por volta dos seus quarenta anos sentou no meu guichê para que eu lhe prestasse atendimento, o tratei como se ele fosse qualquer cliente comecei meu atendimento com um bom dia, e ele antes que eu respondesse me deu dois envelopes, ele disse que um era minha salvação, outro a minha perdição, e que eu escolhesse bem o meu caminho, e foi embora.
            Olhei os envelopes e os guardei na minha gaveta durante semanas, até que um dia resolvi abri-los meu susto, os dois tinham cartas endereçadas a mim, a um ele dizia pelo amor, e o outro pela dor, ambos eram convites pretos, que diziam basicamente que eu era um mago, um Elohim e que mais cedo ou mais tarde eu iria perder o controle, e se não aceitasse o convite todas as pessoas a minha volta sofreriam.
            Parece fácil não? Você em um mundo completamente normal acreditar em um convite preto, dizendo que você não pertence aquele mundo, parece simples? Não você em momento algum duvidaria? Eu duvidei, mas não dos convites e sim do meu mundo, eu fui tocado de leve, mas não o bastante, ei que eu descobriria mais cedo do que eu queria o que era real para mim, e de repente, boom, tudo caiu, um envelope que revela uma verdade e ai você já não é mais o mesmo, as coisas começam a ficar claras, e ai as mudanças começaram.
            Ela me beijava e sentia minha pele fria, mesmo assim me amava, comecei a ver os corvos, e eles começaram a me ver, começaram a segui-la até um momento onde percebi que já não era seguro, comecei a me afastar e ela a sofrer, meu coração pouco a pouco teve o som de suas batidas alterado, a metamorfose já estava na metade, mas isso seria bom, meu sangue começou a escorrer mais difícil, forçando as veias, até que a situação normalizou, minha pele era fria como o gelo, um Elohim é parecido com uma maquina a carta dizia, somos humanos empedrados, somos filhos do erro dos anjos.
            Olhar de aço, com o raio dos pecados humanos em meu rosto abandonou-me o brilho da face, e os sonhos que outrora tivera me deixaram para trás, em nome de uma herança eu segui, em nome de um destino desconhecido me enganei, mas qual o homem que conhece seu destino ou a função dos seus atos, eu só sabia o que eu era e nem isso me bastava.
            Foi então que achei, em meio a todo desespero do abandono uma resposta, em meio ao choro de pranto dela em sentir minha falta encontrei a alegria, uma alegria que não era simples, e nem fácil, e ao ver ela sorriu, ao tocar ela chorou, e ao beijar senti pela primeira vez a vida que corria em seus lábios.
            Uma porta se fecha para que outra se abra, o mundo te transforma naquilo que você não quer para que encontre em você poderes nunca antes imaginados, o que o meu destino fez comigo para que pudesse proteger no submundo de minha própria mente homens e lobos, seres que desconhecem as lutas aqui existentes, e ao simples piscar de olhos, novamente eu posso perder tudo que amo, pois o meu envelope em nome daqueles que amo, foi o amor, o envelope que segundo aquele homem seria minha perdição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário